segunda-feira, julho 09, 2007

Brasileiro ou Alemão?

Eu fiz, recentemente uma viagem de três semanas pela Europa, e tive dúvidas por lá... terei que passar por elas (para aqueles que não sabem, sou descendente de alemães dos dois lados), mas não foi lá que tudo começou...

Foi aqui... no Brasil. De alguns poucos anos pra cá (talvez 3 ou 4) comecei a perceber que não era como as pessoas daqui... fui criado de uma forma diferente, minha cabeça funciona de forma diferente. Enquanto muitos aqui não ligam para os pequenos acertos do dia a dia, alguns deles me apavoram, como pedir para um amigo do trabalho que chegue mais cedo bater o ponto pra vc, que em troca bate o dele na saída. Qual o problema em tentar chegar um pouco mais tarde?

Também não consigo fazer alguma coisa importante de qualquer jeito. Eu levo o mundo a sério (ainda que às vezes não sinta reciprocidade...).

E tudo começa em casa. O brasileiro típico é criado com um pouco de sarcasmo... algumas broncas. Regras flexíveis e muita liberdade. Eu não fui criado assim. Desde pequeno fui ensinado sobre o certo e o errado. Fui ensinado que se algo é proibido é porque não deve ser feito, não porque pode ser feito às vezes... A liberdade não é nada mais do que o prêmio pela responsabilidade.

Na verdade, literalmente assim. Por exemplo, se minhas notas na escola estivessem boas, eu podia estudar sozinho e sair para brincar. Se estivessem ruins, minha mãe se sentaria comigo para estudar todos os dias: minha liberdade seria perdida. Algumas decisões de meus pais eram claras: "você é muito novo para tomar esta decisão, por isso nós a tomaremos por você." É claro que este tipo de decisão foi desaparecendo ao longo do tempo. Fui ensinado a não mentir e a manter minha palavra quase que antes de aprender a ler e escrever.

Apesar da aparente rigidez, meus pais eram muito amorosos e acolhedores. Nunca foi sequer considerada a hipotése de chamá-los por algo diferente de papai e mamãe. Não acho que cresci num ambiente repressor, muito pelo contrário. Meus pais eram sempre próximos, e sempre me inspiravam na descoberta do mundo. Revistas de ciência para criança, maquetes, ferroramas... brinquedos eletrônicos...

Em resumo, minha criação é alemã. E minha mente também... meu interesse pelo racional e minha facilidade com a lógica vem daí. A empolgação pela descoberta e pela ciência, quem sabe?

Tudo isso já estava na minha cabeça antes de viajar à Europa. Em Londres, local de início de minha viagem, fui confrontado com tudo isso. Logo no meu primeiro dia, fui ao Museu de Ciências (logo depois de ir no de História Natural). Em primeiro lugar, fiquei impressionado pela quantidade de alemães no museu, levando seus filhos. Eu vi pais ajoelhados perto de seus filhos ao lado dos objetos exibidos e contando a eles o que significavam, sua grandiosidade, sua importância, como meus próprios pais fizeram comigo. Apesar de ficar emocionado pela cena, a confusão de identidade deu-me algum embrulho no estômago. Eu levei minha camiseta da seleção alemã (que comprei na copa de 2006) comigo na viagem, mas depois desse dia não consegui usá-la.

No sábado eu fui numa balada, de que tinha ouvido falar ainda no Brasil, chama The End. Ela é famosa por tocar um tipo específico de música eletrônica (Electro), de que eu gosto bastante. Gostaria de lembrá-los de que ainda estava em Londres. Havia praticamente tantos alemães quanto ingleses na balada, até alguns de quem não suspeitara inicialmente eu ouvia conversar em alemão quando me aproximava. Ainda pensei que podia não gostar da balada, o que anularia toda essa experiência inicial, mas eu adorei. Minha crise de identidade começou.

A experiência se seguiu por todo o caminho até a Alemanha. Ao observador casual, era nítido que não eu não era inglês, ou francês, talvez holandês. Na Alemanha eu desaparecia entre a população. Até minha altura (1,90m) não fugia da média. Pelos memoriais que caminhava em Berlin eu não podia deixar de me emocionar, o que não tinha ocorrido nos outros países. Finalmente, quando vi os restos do Muro de Berlin eu chorei. Fiquei abismado ao descobrir que os turistas à minha volta olhavam para ele como eu havia olhado para outros memoriais na França, como se não fizessem parte daquilo. Pra mim a dor era muito intensa. Eu sentia na pele a dor transmitida por aquele muro.

Também pude sentir a dor e a ânsia pela unificação (a primeira, em 1870-1). Orgulhei-me do "Made In Germany" (os ingleses obrigaram os produtos alemães vendidos na Inglaterra a carregarem esta inscrição, para denegrir sua imagem, mas logo tal inscrição se tornou um símbolo de qualidade, do qual os alemães ainda se orgulham). Finalmente, me derreti em lágrimas diante do grande quadro de uma mulher representando a Germania, quando o crescimento e consolidação da Alemanha eram ameaçados por Inglaterra, França e Rússia, que não queriam uma potência emergindo no centro da Europa (o quadro, que ainda me tirou umas lágrimas hoje) está aí embaixo. Ele é gigantesco, com 2 metros x 1,5 metro, mais ou menos.


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O resumo é que convenci... ainda que seja brasileiro, há um lado alemão muito forte, eu não saberia dizer se mais forte que o brasileiro.

Felipe Dex: "Por que vai embora se está em casa?"

The Heart Beats in Its Cage

Muito aconteceu num do que fui um dos mais longos tempos sem posts deste blog. Eu sei que esta produção inconsistente me custa audiência... mas fazer o que... é nisso que dá ter uma vida bagunçada... mas quem consegue ter uma organizada???

Bom... além de um relacionamento confuso (e eu deveria dizer irreal... mas isso é pra outro dia), uma viagem pra Europa, uma chegada nonsense ao Brasil (sem comunicação com o mundo externo praticamente) eu voltei! E decidido a ficar!

É por isso que não vou postar apenas esse post insosso, e vou adicionar conteúdo de verdade (no post logo acima, que vc já deve ter lido!).

Felipe Dex: sempre de volta... de volta a mim mesmo? Seria esse blog uma manifestação de mim mesmo?