quarta-feira, setembro 25, 2002

O erro de Lamarck

Lamark, em sua teoria, dizia que os seres evoluíam por uso ou desuso de certos membros/órgãos de seu corpo. A evolução seria, portanto, intencional.

Sei que todos os professores de biologia dizem que ele está errado, mas você já se perguntou o porquê? Veja assim: a natureza tem um equilíbrio perfeito, os animais têm as especializações adequadas às suas necessidades. O sangue das baratas não congela. E tudo isso é o acaso???

Sim! É o mais puro e simples acaso. É totalmente falha e imperfeita a natureza. Sabe por que ela parece perfeita? Você não viu os erros! Mutações surgem de todas as formas e maneiras. As que dão certo ficam, as que saem errado causam a morte/extinção de seus portadores, de suas linhagens.

O mundo só é perfeito se não vemos seus erros!

Mas é possível ser feliz vendo todos os erros do mundo???

terça-feira, setembro 17, 2002

Estátuas

Já viu uma estátua? De perto? Já pensou no que passava na cabeça daquele ser humano quando ele fez aquela pose? "Que vou jantar hoje?", "Será que vou vê-la hoje?", "Será que Zeus criou mesmo o mundo?". E o que é uma estátua se não uma foto, um momento da vida de uma pessoa que foi cristalizado em pedra, tal como aqueles pobres indivíduos que foram envoltos nas cinzas do Vesúvio. Existem várias teorias sobre personalidade. Desde as antropométricas, que dizem que conforme as medidas de seu crânio é possível dizer como você é, até as que dizem que está tudo em seus genes (quase igual), passando pelas "é a influência do meio". Há ainda outras que tentam conciliar as duas últimas. Tudo o que levou séculos de estudo de grandes estudiosos.

Mesmo assim, nós, simples mortais, insistimos em classificar cada pessoa que conhecemos a nosso gosto, sem nenhum critério que não o mais subjetivo, sem nenhum objetivo que não nos defender da pessoa e de nós mesmos. Poucos admitem que funcionam assim. Em menor número são os que sabem que todos funcionam assim. Mas mesmo inconscientemente, todos sabem. Sexta a noite, uma das minhas aventuras, o cara que sentou do meu lado no ônibus, chamava-se Roni, e contou-me um pouco de sua vida enquanto enrolava um baseado. Ele gostava de Metal (Black Sabath segundo me lembro), e de baladas com Rock. Mas como eu não gostava de Metal Melódico. Logo que começamos a conversar, eu jamais repararia no que ele estava vestindo, ele apontou para sua camiseta e disse: "Meu, não repara, minha camiseta é da Bad-Boy mas é que na hora não tinha outra, eu odeio essa bosta aqui."

O que me traz a mente uma outra história, essa mais velha. Uma menina com quem conversei em uma balada. Já no final, lá pras três e meia, quatro da manhã, aquela hora em que já não dá pra ficar com ninguém, mas um telefone pode ser interessante. Não me recordo seu nome agora. Bom, eu sempre vou vestido para a noite com uma calça jeans, azul ou preta, uma camiseta lisa, e uma camisa largona jogada por cima. É meu jeito, meio largado mesmo. Enfim, justo nesse dia eu tinha resolvido me vestir como um autêntico boy.

A menina era legal. Era skatista e gostava de Punk Hard Core. Na época eu não conhecia, mas... NOFX é ANIMAL! Pois então, depois de uns 15 minutos de conversa, vi que ela olhava meio torto pro que eu vestia. Defensivamente (como o carinha de sexta) eu disse: "Olha, eu sei que não é o que parece, mas não sou boy, só me vesti assim hoje, não sou eu de verdade." Mas já estava tudo perdido. Conversamos por mais um tempo ainda. Ela me deu o telefone, mas nunca atendeu quando liguei. Desde desse dia procuro não fingir ser o que não sou.

Mas daí, mesmo assim, você descobre que não é visto do jeito como é. E o cara legal que gosta de cinema europeu e livros de suspense é reduzido a um filhinho de papai. E a mão que faz carinho é dita insensível e interesseira. Você é julgado culpado de não ser você mesmo. E julgado seu braço direito recebe aquele numerozinho azul claro, na metade do antebraço: um rótulo. Você pode tentar escondê-lo com uma manga comprida. Mas aquela marca vai aparecer cedo ou tarde. Mas nesse caso, o Holocausto vem depois.

E os braços das estátuas se quebram depois de muitos anos. E as mentes das pessoas se fecham depois de alguns anos. E um coração assustado se petrifica depois de alguns erros. E uma alma se condena depois de alguns segundos de sofrimento. O Fim? Não sei.

sexta-feira, setembro 13, 2002

5X1 + 10X2 <= 300

"Medite sobre essa equação." Sim, medite. Essas foram as palavras de um de meus professores. A princípio parece uma idéia bem chula, mas pense a respeito. O que você enxerga quando vê isso escrito numa folha de papel? Alguns enxergam um gráfico (na verdade, por ser uma inequação é um semi-plano). Na cabeça de outros aquilo simplesmente não computa, não faz o menor sentido. Alguns procuram outra equação pra resolver o sistema (vícios de vestibular). Alguns devagam sobre o que são X1 e X2. Outros chegam no que poderia ser chamado o mais básico sentido: cinco vezes alguma coisa mais dez vezes alguma outra são no máximo trezentos.

Tudo isso está associado com o que vivenciamos antes em nossas vidas. Alguns dizem que há uma carga genética, mas é difícil de acreditar. Outros dizem que somos um espelho de nossas almas. Mas isso só adia o problema (como nossa alma formou essa personalidade?). É também uma forma de pensar que exime de culpa ("devo ter jogado pedra na cruz na vida passada"). E, a não crença no antropocentrismo é a forma mais básica de fuga. Na idade média, por exemplo, nada era culpa sua ou resultado de seu trabalho: "Deus quiz.". Existem visões piores: colocar a culpa nos outros e ficar só com o lado bom das coisas nas suas costas. Já é hipócrita, mas isso não é Dogma de nenhuma religião, creio eu.

Você também poderia enxergar a perfeição naquela equação: para um matemático, ela é simplesmente perfeita. Expressa tudo que é necessário na medida exata. Pessoalmente, faz tanto sentido quanto: "A árvore cresce para todos os lados, mas só chove no verão."

quarta-feira, setembro 11, 2002

Absoluto.

Ultimamente, no pedaço egoísta da minha mente, eu procurava algo pra enfeitar as paredes do meu apê, que, atualmente, são simplesmente brancas. Achei a coisa perfeita, e simples. Uma propaganda de vodka absolut que eu havia visto num cartão de propaganda numa lanchonete. Era "Absolut Yoga." e mostrava simplesmente uma garrafa de ponta cabeça sobre um pano azul. Como perdi o cartão, resolvi procurar na internet - tem louco para tudo aqui. Fui direto no site (www.absolut.com) e esperava que eles guardassem os anúncios lá. Não guardam. Fui desesperadamente ao Google e digitei "vodka absolut", incrédulo, cliquei no botão de buscar (ou sei lá o que). Para minha surpresa/espanto/susto/pânico, havia uma infinidade de páginas a esse respeito. Cliquei na primeira, não sabia o que ia encontrar.

Por mais incrível que pareça existem pessoas que colecionam anúncios de Absolut. E não são poucas. Nem pequenas as coleções. O que faz pessoas perderem tempo e dinheiro para colecionar anúncios de vodka. Ok! Os anúncios são legais... eu realmente vou por um ou outro na parece do meu apê. Mas sem exageros!!!

A primeira coisa que me veio à cabeça foi, quando durante esse fim de semana eu estava na casa da minha mãe, e no canal Mundo começou a passar um programa que fala sobre colecionadores. Existe gente que gasta US$ 15.000 (isso! quinze mil dólares - R$45.000!!) em bonecas barbie. Garanto a você que mais da metade da população mundial (incluia-me nas estatísticas) nunca sequer sonhou com a possibilidade de existir uma pessoa com tanto dinheiro para torrar, sim!!! para jogar no vaso e dar descarga, como diz minha mãe.

Minha resposta para essa aberração: FUGA! É! Fuga! Você acha que jamais fugiu dos seus problemas? É o que você pensa. Concentrar-se em coleções, futebol, viver pensando que o mundo deveria ser comunista/anarquista, que Getúlio sim era um presidente, que o universo está em eterna expansão, etc. etc. etc. não passa da mais pura e simples ALIENAÇÃO. Nem todas as pessoas atingem o extremo, nem todas. Há uns 10 anos atrás, num clube noturno em São Paulo, na pista de dança, um homem suicidava-se, com uma faca. Por que? Horas antes o vocalista da banda Joy Division havia se matado.

Não que isso tenha feito a vida do carinha perder o sentido. Ele havia esquecido quem ele mesmo era. Se espelhava tanto no outro, porque queria esquecer a própria vida, que não teve escolha: era isso ou deveria voltar à sua vida miserável, da qual conseguira fugir durante tantos anos. Não o culpe. Vai saber de quantas formas diferentes a vida espancou aquele homem.

Não, não acredito em destino. Não acredito em vida madrasta. Acredito em pais que não medem conseqüências. Acredito em miséria. Acredito em fome. Acredito que as pessoas querem ser felizes. Elas acreditam na fuga para atingir a felicidade. O raciocínio é simples: 1. O mundo é uma droga. 2. Eu não mereço sofrer tanto. 3. E se eu simplesmente esquecesse que o mundo existe?

Um professor meu de biologia dizia: "se não está tudo bem é porque ainda não acabou."
E o livro "Não faça tempestade em copo d'água" diz: "Não se preocupe com seu problema, daqui cem anos ele não vai mais significar nada."

E eu só procuro não fugir. E agradeço aos céus por ter tido bons pais.
Lira, o cachorro marrom

Seho era um garoto cego. Ele tinha um cachorro, Lira, com quem sempre brincava durante as tardes de sol. Seho jogava sempre a mesma bola de tênis verde. E Lira a entregava em mãos antes que o garoto pudesse piscar... ou ouvir a bola quicar.
Seho sempre repetia:
-- Nossa Lira! Você é rápido como a luz!
Lira abanava o rabo e latia.
E Seho lançava a bola o mais próximo possível do horizonte. E antes que Seho pudesse ver o tempo passar, já estava com a bola em sua mão, apenas um pouco molhada com a baba do cachorro marrom -- Lira.
Um dia, ao ser elogiado, Lira latiu duas vezes. Seho então resolveu jogar duas bolas. Num piscar de olhos já estava com uma em cada mão. Ele sentou-se no chão e fez carinho em Lira.
Seho era um garoto cego.

domingo, setembro 08, 2002

Feriado Insano

Já fez alguma coisa que jamais esperava fazer? Desafiou a rotina do dia-a-dia para se jogar de cabeça em alguma coisa sem sequer imaginar o resultado? Isso deixou seus pais bravos? Foi a primeira vez que fiz isso. Não, não era uma trilha na floresta (já fiz até de bicicleta), nem um pulo de pára-quedas (que um dia vou fazer!!). Mas pra mim foi uma das coisas mais incríveis. Eu tomei uma decisão sem sentido, totalmente sozinho: uma pequena porta se abriu diante de mim, ao lado da porta principal, e eu resolvi cruzá-la, desafiando o senso comum! É a primeira vez na vida que me sinto dono do meu destino.

Não foi, é claro, a primeira decisão da minha vida. Mas com certeza foi a mais marcante. Todas as outras são decisões que todos nós tomamos: escolher a faculdade, namorar alguém, ir jogar bola com os amigos. Finalmente sinto que obedeci minha rebeldia, que esteve oculta por toda a vida. Minha máscara caiu de meu rosto e se espatifou no chão: não posso mais usá-la! Não quero mais usá-la!

Sinto medo. Como o mundo reagirá a esse novo homem que nasce? E como reagirá à morte daquele outro? Mas eu não ligo: finalmente sinto que sou eu mesmo. Finalmente sinto que posso encarar o mundo de frente. E acabo de eleger uma data especial na minha vida: 7 de setembro! O dia da independência do Brasil passa a ser o dia da minha independência também! E para não deixar que essa chama se apague, todo ano, no feriado da semana da pátria, farei alguma coisa fora do normal. Eis que surge o FIM DE SEMANA INSANO! meu dia de lembrar como realmente sou. Meu único dia de sanidade.