quinta-feira, setembro 18, 2008

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Felipe Dex: se as coisas estivessem um pouco mais fáceis ainda estariam longe de perder a graça.


quarta-feira, setembro 17, 2008

O Mundo Mudou?

Seis (talvez sete) bilhões de pessoas andam por aí... a maioria delas sem saber exatamente sequer o que era a Bear Stearns, ou a Lehman Brothers, ou a Merryl Lynch. Ou ainda, que raios é um hedge fund? O que é essa indústria de Crédito, Investimentos, Fusões e Aquisições? E por que deveriam se preocupar com isso?

Infelizmente nosso sistema educacional (e não me refiro só ao brasileiro) acha que é mais importante que nossas crianças aprendam que nosso coração tem quatro cavidades ou que a aceleração da gravidade é 10m/s² do que sobre o Sistema Financeiro, este sim, um dos grandes (senão o maior) pilares do Capitalismo Contemporâneo.

O sistema econômico em que você vive é tão importante quanto a comida que você come. Na verdade, ele é a comida que você come. É ele que diz quanto você vale e quanto sua comida vale. É o sistema econômico que cria a cadeia de valores monetários que sustenta uma sociedade. Qualquer historiador concordará comigo que não há Cultura sem Economia ou Economia sem Cultura.

Os chamados Bancos de Investimento (juntamente com os Hedge Funds - termo que me nego a traduzir) são os centros de tecnologia de ponta do nosso Capitalismo Financeiro. São como Caravelas em 1500 ou o Projeto Manhattam em 1945. Eles estruturam, compram e vendem e fornecem liquidez a milhares de tipos de ativos e derivativos. Possibilitam e facilitam grandes transações entre empresas e investidores ao redor do mundo. Permitem que produtores agrícolas do mundo inteiro se protejam de oscilações nos preços daquilo que plantam. E permitem que a precificação disso tudo seja razoavelmente eficiente.

Pois bem. Na década de 90 os Bancos de Investimento viviam de corretagem, uma pequena percentagem do volume negociado por seus clientes, e de negócios em finanças corporativas (emissões, fusões, aquisições). Como manda a bíblia, eles cresceram e se multiplicaram. Criaram grandes estruturas de análise, tanto de ativos/derivativos quanto de deals. Neste ramo da economia só há um ativo primordial: informação. Então quando digo "estruturas de análise" leia "equipes de analistas". E analistas, ao contrário de peões de fábrica, não são baratos.

Crescer não é problema. Multiplicar é. Com o tempo, o aumento da competição no setor levou à uma queda das margens. Focadas em lucro, estas instituições abriram seu leque de atuação, indo rumo a Private Equity (investimentos em empresas não listadas em bolsa) e Crédito. E, talvez seja da natureza humana: períodos de crescimento e otimismo prolongado relaxam os controles de risco, inclusive os de crédito.

No início de 2007 já se falava da bolha imobiliária nos Estados Unidos, do quanto os consumidores estadunidenses estavam alavancados e de quão caras estavam ficando as commodities. Lentamente, estruturas de crédito consideradas seguras começaram a falhar. Em abril ou maio dois fundos de crédito da Bear Sterns quebraram. A partir daquele ponto, era possível enxergar as nuvens negras no horizonte. Muitos enxergaram chuvas ou tempestades. Acho que ninguém enxergou o furacão.

Hoje já é possível enxergar algumas coisas com maior clareza. A primeira delas é que os fornecedores de crédito levarão tempo considerável para avaliar suas perdas e recuperar seus balanços. Há pouquíssimo crédito no mundo. Estamos falando de anos, não de meses.

Achar que uma crise financeira deste tamanho não afetará a economia real é apenas wishful thinking. O mundo inteiro pode estar à beira de uma depressão. Mas não é só isso...

Estamos presenciando um evento que talvez ocorra a cada 500 anos: a derrocada de um importante pilar do sistema econômico dominante. Vi no jornal hoje um artigo comparando a queda de Lehman e Merryl com a queda das torres gêmeas em 2001, e acho que a comparação é adequada.

Não sei se por acaso ou não, mas outros paradigmas de poder econômico e organização social emergem nesse exato instante. Estou sim falando de Rússia e China.

Um historiador famoso disse que é muito difícil aos olhos contemporâneos enxergar as grandes mudanças históricas, que normalmente só são vistas claramente depois de 50 ou 100 anos. É possível sentir que os ventos da mudança sopram. É muito difícil saber para que lado eles apontam.

Felipe Dex: impatiente makes fools of us all. O fio que segurava a Espada de Dâmocles se partiu.