sábado, março 18, 2006

CrossRoads

Talvez seja a milésima vez que eu digo isso, mas estou diante da decisão mais difícil da minha vida. Concordo que poderia discutir o crescente aumento marginal da complexidade da vida, um tema talvez mais profundo, mas meu foco agora é o micro, não o macro, por assim dizer... palavras de administrador...

Ainda não há uma oferta oficial, preciso falar com outras duas pessoas, mas não acho que possa ir absurdamente mal numa entrevista a ponto de fazer meu background ruir. Basicamente, fui convidado a estar na outra ponta do sistema capitalista... fui convidado a ser um capitalista, ainda que com uma porcentagem muito pequena (mas possivelmente crescente).

Como até os leitores ocasionais devem saber, trabalho na empresa A, que é grande e bem estruturada. Gosto do que faço e, apesar de me sentir numa repartição pública eventualmente (tomara que não seja processado por isso... é preconceito, eu sei, mas não encontro outra forma de me expressar), existem boas possibilidades de crescimento e, acredito eu, não é difícil que me paguem metade de um MBA lá fora em 2 ou 3 anos. Tenho direito a um bônus, e meu salário está razoável, regulado pela CLT. Só o plano de saúde que é bem meia-boca... hahaha

Aceitando a proposta, deixo de receber salário e passo a receber pró-labore. Deixo de vender meu tempo e meu trabalho para outrem e passo a reter alguma mais-valia, pouco no início, mas mais no longo prazo.

Mas, com sempre prego, sem risco, não há retorno. E os riscos não são pequenos. Em dois anos posso estar na grande estrada dourada rumo ao mundo dos sonhos, mas posso também estar reescrevendo meu currículo, para vender novamente minha alma para as grandes corporações.

Mas não só de bens tangíveis vive o capitalismo. Mesmo a um custo financeiro alto, tenho certeza de que aprenderei muito mais nesses 2 anos tomando o risco do que ficando onde estou. Aprenderei mais e mais rápido. Terei uma experiência de vida, não apenas de trabalho. Minha mãe me criou repetindo exaustivamente algumas frases, entre elas está "conhecimento é a única coisa que ninguém pode tirar de você, meu filho." Não tenho muitas dúvidas de que ela está certa.

Fico tentanto projetar o pior dos cenários (é sempre bom tentar descobrir quão fundo é o poço). O pior de todos seria, daqui 2 anos, voltar a uma grande empresa, exatamente no ponto em que estou agora. Sei que 2 anos são muito tempo. Mas será que tanto assim? Se eu tivesse feito, por exemplo, 2 anos de cursinho, estaria onde estou agora daqui a 2 anos. Não me pareceria uma situação ruim, no fim das contas...

A outra coisa que passa em minha mente é: suponha que não vá. Fico onde estou. Vou crescendo na empresa A. Em 3 anos vou fazer um MBA no exterior, 2 anos. Volto num bom cargo, ganhando bem, digamos, mais 3 anos. O que vou sentir vontade de fazer em seguida? Casar e ter filhos??? Talvez... mas uma coisa é certa, vou estar procurando uma oportunidade exatamente como a que tenho diante de mim agora. E agora não tenho sequer namorada, muito menos mulher e filhos... tenho algum dinheiro guardado. Não muito, mas suficiente pra me dar uma margem de segurança.

Nunca ouvir nenhuma história de sucesso que contenha "tive uma grande oportunidade e joguei fora, mas depois deu tudo certo...". Do meu ponto de vista cético, "tudo dá certo no final" não passa de "história pra boi dormir", pra citar minha mãe mais uma vez. Sem risco não há retorno, e só se vê adesivos "Jesus Salva" em carros velhos e requebrados.

Minha conclusão não pode ser outra, que não, ao menos, tentar. No fim das contas, quando eu bater nos 50 anos, 2 anos serão apenas 4% da minha vida, ainda que agora sejam quase 10%!

Felipe Dex: Os ventos sopram a favor... mesmo com a bússola desregulada, sinto que é a hora de abrir as velas e içar âncora. Pode ser que não atinja o porto que vejo em meu mapa, mas quem sabe que tesouros posso encontrar?

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