segunda-feira, maio 15, 2006

São Paulo, Cidade Sitiada

Quinze de maio de 2006. Um dia que não será esquecido por nenhum morador de São Paulo. Um dia que começou torto, e ainda não se sabe como vai acabar...

Até a hora do almoço as pessoas ainda estavam tranqüilas. Um dia sem ônibus não é exatamente raro por aqui, afinal, vez por outra tem uma greve, ou uma enchente. Ainda assim, a cidade já não era a mesma...

Após o almoço, as notícias começaram a chegar. Uma viatura da polícia metralhada em Higienópolis, uma estação do metrô atacada. Tal qual agências de bancos, outros ônibus... o ataque aos bairros nobres pesou nos corações dos paulistanos. Faculdades e escolas fecharam as portas. O comércio também. Até eu, que normalmente só chego em casa às 10, cheguei às cinco.

No caminho, percorrido rapidamente graças à bicicleta (salve salve), o trânsito caótico. O nervosismo estampado em cada rosto. A rua Oscar Freire FECHADA. Meu celular já não completava ligações.... a rede não completava as chamadas...

Um instinto, talvez alguma marca de guerras passadas em meu DNA, fez com que, ao chegar em casa, o único pensamento em minha cabeça fosse: "comida". Eu não estava com fome. Algo em mim dizia que eu precisava comprar comida. Cultural ou genética, a voz que bradava em minha mente dizia para que eu me preparasse para tempos de guerra...

E não fui o único. Ao entrar no supermercado, a primeira frase que ouvi foi "da onde saiu tanto cliente?!". Dita por uma funcionária. O supermercado fechou as portas logo depois que saí... Deixaram cerca de 7 pessoas que estavam à porta entrar, mas elas tiveram que insistir... devem ter sido as últimas. Todos queriam ir para casa.

E é inverno. São 6 e meia e já está escuro... O governador apareceu há pouco na tv, dizendo que não há toque de recolher. Mas que a força policial estará toda nas ruas. O que ele não disse, é que eles estão sedentos de sangue. Perderam, em 3 dias, cerca de 50 amigos e colegas. "Isso não vai ficar assim" foi a frase que, dita por um policial, ficou registrada nos jornais...

As prisões ainda estão em motim. E o pressentimento que tenho, é que o que está para acontecer vai fazer o Massacre do Carandiru, hoje já num passado distante, parecer uma tarde no parque.

Nunca achei que diria isso, mas aqui em casa, acuado, sei que, se isso acontecesse, não haveria peso em meu coração. Há peso somente pelos que foram, em um bonito fim de semana de outono, mortos covardemente.

Felipe Dex: nunca mais seremos os mesmos.

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