quinta-feira, novembro 28, 2002

Certo e Errado - Geração X

Na minha geração, e nas posteriores, vejo uma coisa que não vejo nos meus pais, nem nas pessoas um pouco mais velhas que eu. É uma mudança nos valores, que se manifesta através de uma quebra no paradoxo das gerações anteriores. Nós somos incapazes de distiguir o certo do errado.

Parece chocante, mas para muitos de nós é verdade. Não desenvolvemos, ao longo de nossas vidas, um padrão de sucesso ou fracasso único, nem que seguisse um padrão. Pra nós é impossível enxergar o mundo assim. Podemos admitir que pessoas vejam assim, mas nunca conseguiremos ter essa visão. Se é melhor ou pior? Não sei... como acabei de dizer, não consigo opor as coisas na escala de valores. Digo-lhe que ambas têm vantagens e desvantagens.

Se é evolução? O que é evolução? E por que a evolução tem que ser pra frente? Não é! Ou você afirma, com toda a certeza que é mais evoluído que a barata? Ou que é mais inteligente que um golfinho? Ou mais esperto que um cachorro? São todas coisas tão argumentáveis, que não consigo dizer se sou melhor adaptado ao meu ambiente do que a aranha que está na minha parede. Se a aranha é burra... quem disse que há vantagem em ser inteligente?

As pessoas do passado partem de pressupostos para julgar o mundo, as pessoas, a realidade, que não consigo assumir como verdadeiros. Elas assumem que, em qualquer avaliação, precisa haver um bom e um ruim, um positivo e um negativo, um Deus e um Diabo. Assim, se recebem duas definições para diferentes estados da mesma coisa, posicionam uma como certa e louvável, a outra é errada, e execrável.

É certo tirar boas notas na escola? Einstei tomou pau em física. É certo fazer faculdade? Sílvio Santos é um dos homens mais ricos do país. É certo trabalhar? Um executivo de um grande banco, aos quarenta anos, pediu demissão, comprou uma casa na praia, e vive do dinheiro que juntou, na boa, na praia.

Não digo que nunca tentaremos, por exemplo, definir a personalidade de outras pessoas: você é inteligente, você é emocional. No entanto, nunca diremos: é bom ser inteligente. Nunca diremos: É errado ser emocional, você tem que ser racional.

As músicas começam a mudar: "I would go out tonight, but I haven't got a Street to wear". Observe como ele se julga errado por não ter um "Street". Ele decide ficar em casa, por estar "errado". O outro lado: "Não posso mais parar. É só correr atrás. Nem tudo mudou. Não posso mais pensar no que ficou pra trás. E nada faz voltar". ou ainda: "O que eu queria te dizer, é sobre o que eu sempre sonhei, mas não desisto por ninguém" ou ainda "Não teria sentido viver sem tentar" ou "Quanto mais eu fracassar, com as coisas que acontecem, quanto mais me preocupar, com as coisas que aparecem.... Eu não teria mais motivos pra viver! Mas eu não me preocupo, eu não penso assim!". Ele sempre prega que você deve lutar pelo que você acredita, "não teria sentido viver sem tentar".

O choque das duas gerações vem daí. A que julga por certo e errado no mundo, espera ser julgada assim. Mas quando a outra faz um julgamento qualquer, ela procura propósito e justificativa, de modo que as duas avaliações são dissonantes. E não são apenas valores disconsonantes, é muito mais profundo que isso. São visões diferentes de mundo. O mundo das gerações passadas "funciona" ou "não funciona". Nosso mundo apenas "gira". Não vemos nada de errado nisso. Por que? PORQUE NÃO EXISTE CERTO E ERRADO NO NOSSO MUNDO!!!

E se você leu esse texto, e não fez o menor sentido: está errado, é porque você não pertence a essa geração. Lamento, você é uma espécie condenada à extinção. Talvez seja um novo Renascimento. Talvez seja o início do fim. Não sei se é bom ou ruim, mas eu adoro isso!!!!

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